NOTA PÚBLICA DO PSOL DE TOLEDO-PR:
O preconceito já não é mais velado na Câmara de Vereadores de Toledo. No
dia 16 de setembro de 2013, os vereadores rejeitaram, em primeira votação, o Projeto
de Lei n° 165/2013, que tratava sobre a reestruturação do Conselho Municipal
dos Direitos da Mulher e previa a criação de políticas públicas que visassem
garantir a equidade de gênero.
Posição dos vereadores ante a proposta de adiar a votação do projeto. |
Essa foi a primeira votação, o projeto original foi rapidamente
rejeitado. Na segunda votação, que ocorreu no dia 23 de setembro, houve pressão
de movimentos sociais durante a sessão e a tentativa de alguns vereadores em
adiar a votação. A proposta de adiamento teve como justificativa ampliar o
debate sobre o tema. Porém, foi rejeitada por 14 votos contrários. E o que surpreende é que os próprios partidos votaram divididos,
conforme a tabela ao lado.
Aquilo que era um acúmulo das discussões com organizações e ativistas
mulheres e LGBTs, além do combate à opressão histórica imposta pela ideologia
machista e patriarcal à mulher, que fica subjugada na sua sexualidade à mera
reprodução e sem ter o direito ao próprio corpo, o projeto original possibilitaria
estender as políticas a lésbicas e transexuais. Enfim, abrangendo
o significado do conceito de gênero (construção da identidade dos indivíduos
como um processo social e não uma determinação biológica).
Mesmo assim, os vereadores não deixaram isso passar. A
começar pela “Comissão de Direitos
Humanos e Defesa da Cidadania” que tem na sua composição fundamentalistas e
líderes religiosos, além de um vereador que no período da Ditadura Militar se
posicionava na defesa daquele regime, justificando a repressão.
"A nossa luta é todo dia, contra o machismo e a homofobia!" |
Seu relatório negativo sobre o projeto de lei, principalmente quando apontou
a necessidade da retirar os termos “equidade de gênero”, demonstra claramente no
plano de fundo a defesa de uma ideologia dominante: machista, homofóbica e patriarcal.
Em resumo, o que entendemos da posição da comissão é que uns podem ter
direitos e outros não. Ou seja, demonstra claramente a tentativa de imposição de
uma “visão de mundo” que não respeita a diversidade e a pluralidade. Diante
disso, não há nenhum indicativo que essa comissão irá de fato defender os
direitos humanos e a cidadania. Direitos humanos e cidadania para quem?
Manifestação de populares e de movimentos |
Mas esse problema não ocorre somente em Toledo. Vivemos o avanço de
grupo políticos retrógrados e reacionários em todo o país, que têm como
agenda principal a desumanização do outro. Querem reverter e impedir avanços dos
direitos sociais e humanos, das mulheres, dos LGBTs, das religiões
afro-brasileiras, dos usuários de drogas, dos pobres, índios, quilombolas, dentre
diversas outras minorias e grupos que estão sendo criminalizados por lutarem por seus direitos.
Como se isso não bastasse, no mesmo dia que rejeitaram tal projeto, foi
aprovada por unanimidade a criação da Bancada Cristã. Isso que já havia sido
alertado quanto ao caráter inconstitucional da proposta, pois viria a ferir a
laicidade do Estado. No entanto, esse caso ainda não teve desfecho.
Por um Estado Laico! |
Como é que uma câmara poderia representar as diferentes culturas,
orientações sexuais, religiões e identidades sociais se quem está legislando
está buscando apresentar um padrão de costumes?
Um Estado laico não é ateu. Mas também não deve favorecer nem perseguir
qualquer religião ou crença. As decisões sobre a legislação, políticas e
serviços públicos devem ser baseados em evidências e nas necessidades reais e
não em crenças de qualquer natureza. Caso contrário, é uma ameaça aos direitos
fundamentais e às liberdades.
No final, o projeto foi aprovado por todos os vereadores, substituindo
os termos “equidade de gênero” por “equidade entre homens e mulheres”, forma
que nega o caráter de respeito à diversidade apresentada no projeto inicial.
É preciso somar esforços e reagir contra essa cultura e os seus agentes
que só visam trazer retrocessos. No âmbito geral da opressão que atinge a
população, assim como o racismo, o preconceito machista e homofóbico cumpre o
papel de dividir a classe, além de jogar diferentes setores da sociedade
oprimida uns contra os outros, ao invés da união para derrotar os opressores e
exploradores.
Mais que isso, é importante nos organizarmos e combatermos no dia-a-dia
a cultura opressora e o sistema de exploração que retiram toda a dignidade
humana e negam o direito a ter uma vida.
Partido
Socialismo e Liberdade - PSOL